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Companhias aéreas europeias discutem com governos o que fazer para evitar contágio pelo coronavírus enquanto vacina não for descoberta e amplamente disseminada
Nada de despedidas no aeroporto. Você mesmo faz seu check-in e despacha as malas. Na porta do avião, recebe a refeição para o voo, dentro de um saco que servirá para guardar o lixo até a aterrissagem. Bagagens de mão serão ainda mais limitadas. Para ir ao banheiro, será preciso pedir autorização dos comissários. Mantida vazia, uma área da cabine servirá como “chiqueirinho” se alguém apresentar sintomas de Covid-19. Na chegada, nada de abraços também.
Essas são algumas das mudanças já decididas por companhias aéreas europeias ou em discussão entre empresas e governos para evitar o contágio pelo coronavírus enquanto uma vacina não for descoberta e amplamente disseminada. Na quarta (13), o Centro Europeu de Controle e Prevenção de Doenças (ECDC) e a Agência de Segurança da Aviação da União Europeia enviaram diretrizes aos governos europeus, com recomendação de várias mudanças para aumentar a segurança nos voos.
Será preciso preencher questionários de saúde e dar informações de localização (para facilitar o rastreamento no caso de identificação de algum doente no voo) na compra da passagem ou no check-in online, dependendo da antecedência com que for feita a reserva.
A orientação é que apenas passageiros entrem nos terminais dos aeroportos, que já começaram a medir a temperatura nas portas. Obviamente, o uso de máscara será obrigatório o tempo todo.
O número de restrições e o medo de contágio devem fazer com que voos mais longos demorem mais a retomar, dizem representantes das companhias. Dados da aviação na China, onde a epidemia começou antes e foi controlada mais cedo, mostram uma recuperação dos voos domésticos, mas ainda menos da metade da média pré-confinamento: eram 75 mil por mês, e agora são cerca de 30 mil.
A empresa de baixo custo Ryanair, uma das que anunciaram o fim da fila de espera pelos toaletes, se prepara para reiniciar 40% dos voos em julho, subindo para até 70% em setembro.
Uma das questões mais debatidas é se será obrigatório manter assentos vazios, política já adotada por companhias como a Lufthansa e a TAP, mas rejeitada pela Iata (associação das empresas aéreas).
A associação critica a ideia com dois tipos de argumento. Um é de saúde: segundo o conselheiro médico David Powell, o fluxo de ar dentro do avião é dez vezes maior que em outros locais públicos, como cinemas e teatros, e o ar passa por filtros potentes chamados de Hepa, os mesmos usados em enfermarias (com exceção de aeronaves antigas).
“O risco de transmissão não é pelo ar da cabine, mas por gotas de saliva de alguém infectado”, disse o consultor. Como as pessoas estão sentadas lado a lado, há menos risco de contaminação, principalmente com o uso da máscara. E o assento da poltrona funcionaria como um escudo físico.
Para tornar a convivência ainda mais segura, a Iata estuda a possibilidade de fasear as refeições, para que os passageiros não precisem tirar as máscaras ao mesmo tempo para comer. Essa opção, porém, é menos eficaz que a de distribuir as caixas de lanche na entrada, pois obrigaria os comissários a se deslocar mais vezes pelo corredor.
Outra opção, adotada pela Ryanair, é só servir alimentos e bebidas por encomenda, pré-embalados –e, como já acontece hoje em várias lojas europeias, o pagamento só é possível com cartão.
O outro argumento da Iata contra o cancelamento de assentos também é de saúde, mas financeira. O economista-chefe da entidade, Brian Pierce, diz que, para empatar receitas e custos, é preciso voar com pelo menos 75% dos assentos ocupados, e a exigência de “cancelar” acentos permitiria no máximo 67%.
Por enquanto, a Comissão Europeia (Poder Executivo da UE) não falou em assentos vazios, e a agência de controle de doenças escolheu palavras cuidadosas: “Sempre que viável”, as companhias aéreas devem garantir, “na medida do possível”, distanciamento físico entre os passageiros.
Se não for viável nem possível, “passageiros e tripulantes devem aderir a todas as outras medidas preventivas, incluindo higiene das mãos, etiqueta respiratória e uso de máscara”, sugerem as diretrizes.
As verificações de temperatura podem ter um efeito psicológico, mas são pouco eficazes para identificar pessoas infectadas, dizem as agências.
Elas também se opõem a passaportes de imunidade, já que não há certeza até o momento de que ter desenvolvido anticorpos garante imunidade. Se e quando uma vacina estiver disseminada, porém, é praticamente certo que o certificado de vacinação seja exigido no mundo todo, como já acontece hoje em alguns locais com doenças como a febre amarela.
As diretrizes das agências da UE não se sobrepõem a regras estipuladas pelos governos nacionais, mas o bloco espera que um protocolo comum facilite o trânsito de pessoas e ajude a religar as turbinas de um dos setores mais atingidos pela pandemia.
A retomada das viagens pode também trazer uma reorganização de rotas, já que países podem abrir suas pistas de aterrissagem apenas para aviões vindos de destinos em que a pandemia é considerada sob controle, como sugere a UE em suas orientações.
No continente, começou a funcionar na sexta (15) a primeira “bolha de viagens”, entre os países bálticos (Estônia, Letônia e Lituânia), e há negociações para estabelecer corredores seguros entre locais que tiveram sucesso no combate à pandemia. Áustria, Grécia Israel, Noruega, Dinamarca, República Tcheca, Singapura, Austrália e Nova Zelândia têm feito teleconferências para acertar condições nessa direção.
Outras bolhas em estudo são a que une Israel, Grécia e Chipre (países em que o turismo representa parte significativa de seu PIB) e outra com Croácia, Eslovênia, República Tcheca, Eslováquia, Áustria e Alemanha.
Se de um lado há esforços para facilitar as viagens, de outro surgem complicadores. Espanha e Reino Unido já anunciaram que quem chegar de fora precisará ficar 14 dias em quarentena, em instalações específicas.