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A companhia aérea Latam Brasil entrou com pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos. Eu sou César Esperandio, economista do Econoweek, a tradução da economia. Neste artigo, bem como no vídeo acima, no qual respondo a perguntas ao vivo sobre o tema, vou traduzir o que está acontecendo com a Latam, e quais são as perspectivas para o setor aéreo e de turismo, bastante penalizados com a crise. Para ajudar a esclarecer o assunto, no vídeo acima, conversei com o Leonardo Nascimento, sócio-fundador da Urca Capital, especialista em reestruturação de dívidas e recuperação judicial.
O processo de recuperação judicial da Latam Brasil não foi uma grande surpresa já que as afiliadas da Latam no Chile, Peru, Colômbia, Equador e Estados Unidos entraram com pedido de recuperação judicial em maio, e o setor aéreo passa por grandes dificuldades, com a queda brusca de receitas e da demanda durante a crise de saúde global. Segundo especialistas, a Latam Brasil havia ficado de fora desse primeiro processo para facilitar a negociação de uma possível ajuda financeira para o setor via BNDES, que ainda não aconteceu.
Para agravar a situação da Latam, a empresa está bastante concentrada em voos internacionais, que foram os mais afetados. Além disso, a Latam brasileira conta com uma dívida que chega a R$ 13 bilhões quando são considerados os créditos de passagens emitidas e não realizadas por conta do período de cancelamento de voos.
O que é recuperação judicial?
Recuperação judicial é uma medida para tentar evitar a falência. A companhia entrou em recuperação judicial justamente porque perdeu a capacidade de pagar suas dívidas e, nesse processo, tem a oportunidade de reorganizar seus negócios, renegociar dívidas e arrumar a casa.
Tenho passagem. E agora?
A recuperação judicial serve justamente para permitir que a empresa continue operando. Então, por enquanto, todos os voos serão mantidos e o programa de milhagens respeitado. É essa a expectativa para os curto e médio prazos.
Segundo o comunicado oficial, a Latam “continuará a voar normalmente durante todo o processo” e “serão respeitadas todas as passagens aéreas atuais e futuras, vouchers de viagem, pontos, reembolsos e benefícios do programa LATAM Pass, bem como as políticas de flexibilidade e demais normas vigentes”. A companhia aérea ainda informou que “os funcionários continuarão sendo pagos e recebendo os benefícios previstos em seus respectivos contratos de trabalho”, enquanto “os fornecedores receberão tratamento adequado”.
O que esperar do setor aéreo?
O Brasil vinha se recuperando de uma crise, antes de tudo isso acontecer. Havia expectativa de recuperação da economia brasileira, que deveria fazer a renda das famílias melhorar e, consequentemente, passarem a viajar mais. Esse fator poderia ser um vetor de mais receitas para companhias aéreas e ligadas ao turismo.
Mesmo que o pico dessa crise de saúde já tenha ficado para trás em algumas regiões, os países vão continuar com restrições à circulação, lugares de maior concentração de pessoas terão que se adaptar para manter maior distância entre as pessoas, bem como há a possibilidade de companhias aéreas também terem que se adaptar isso, com maior distanciamento entre os assentos. Sem contar que poderemos ver novas restrições de circulação regionais para evitar a expansão de novos focos de surgimento da doença.
Por tudo isso, imagino que o turismo deverá enfrentar tempos difíceis. Por outro lado, o mercado costuma precificar com bastante antecedência qualquer perspectiva, seja positiva ou negativa. A pergunta é: quem não investir agora em setores como aéreo e turismo poderia estar perdendo a oportunidade de lucrar caso essas ações voltem a subir para níveis anteriores? Sim. Porém, hoje, muitos não se sentem confortáveis em fazer esse investimento.
O que esperar da economia?
Já conversamos sobre a possibilidade de estar se formando uma bolha no mercado financeiro, já que, apesar de os investidores embutirem nos preços das ações a expectativa de recuperação futura, atualmente, a economia real (formada por famílias e empresas) ainda sofre com os efeitos da crise, sentindo o peso da perda de emprego, de renda, e empresas fechando as portas.
O fato é que se a economia real não mostrar sinais mais animadores de recuperação, dificilmente a Bolsa e companhias aéreas e de turismo se recuperarão rapidamente diante do cenário de pessoas com menos renda e, portanto, menos propensas a viajar.
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Com demissões e pedido de recuperação, aéreas negociam “sociedade” com o BNDES”
“A queda vertiginosa da circulação de pessoas, uma consequência das medidas de distanciamento social para enfrentamento do coronavírus, provocou um choque sem precedentes no setor aéreo do mundo todo. No caso brasileiro, a crise já provocou a inclusão da Latam no pedido de recuperação judicial iniciado pela companhia nos EUA. O anúncio de que a Latam brasileira faria parte do acordo foi feito pela própria companhia nesta quinta-feira (9).
O pedido de recuperação, que envolve o acesso mais fácil a financiamentos e a elaboração de um plano de recuperação em até 120 dias, está em sintonia com as projeções para o setor. Com a maior parte da frota parada e a reabertura caminhando a passos lentos, a perspectiva é de que o retorno “à normalidade” também demore a acontecer: segundo a consultoria Bain & Company, as aéreas devem sofrer os efeitos do coronavírus ao menos até o fim de 2023.
A expectativa é de que, entre os fabricantes de aeronaves, as maiores dificuldades sejam sentidas entre os que produzem aviões de grande porte. Do lado das companhias aéreas, os efeitos também tendem a ser devastadores: segundo a Bain & Company, a demanda global por voos deve cair entre 40% e 55% em 2020.”
“No Brasil, a crise precipitou o rompimento do acordo entre Embraer e Boeing, avaliado em US$ 4,2 bilhões. Com o negócio desfeito, o governo deve voltar a fazer aportes na empresa, por meio da emissão de ações pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A ideia é dar liquidez à Embraer enquanto a crise durar para, depois, voltar a pensar em parcerias com outras empresas do mercado. Nesse sentido, um empréstimo de R$ 1,5 bilhão para a empresa já foi aprovado pelo BNDES.
Entre as companhias aéreas que operam no país, por sua vez, a perspectiva é de que os voos domésticos só voltem a ser como antes da pandemia em 12 ou 18 meses – isso se não houver mudanças drásticas no cenário. No pior momento, o do início da crise, a demanda por voos caiu 93% para rotas domésticas, e 100% para rotas internacionais. Os dados são da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear).
Aos poucos, ainda de acordo com a Abear, o número de voos diários está aumentando – mas, ainda assim, está longe de ser o que era antes do coronavírus. A pior média foi registrada em abril, quando houve apenas 180 voos diários. Em maio, o número aumentou para 263; e, em junho, se aproximou dos 400. Para julho, a previsão da Abear é de que o setor registre 595 voos por dia – ainda assim, muito menos do que os cerca de 2,7 mil registrados no período pré-crise.
“Sentimos que estamos, devagar, recolocando os voos porque a demanda começa a reaparecer. Para o final do ano, a previsão é de que estaremos ao redor de 65% do que éramos antes da crise”, diz Eduardo Sanovicz, presidente da Abear.”