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Consumo de alimentos ultraprocessados por indígenas gera impacto na saúde pública, diz especialista

A Fiocruz Amazônia esteve presente ao XXVIII Congresso Brasileiro de Nutrição (Conbran), realizado entre os dias 21 e 24/05, em São Paulo, fazendo um alerta para a questão do consumo de alimentos ultraprocessados por indígenas em tempos de crise climática, com impacto direto sobre o Sistema Único de Saúde (SUS), no caso do Brasil, e a necessidade de políticas públicas voltadas de forma urgente para a mitigação desses problemas. O epidemiologista Jesem Orellana, pesquisador da Fiocruz Amazônia e chefe do Laboratório de Modelagem em Estatística, Geoprocessamento e Epidemiologia (Legepi), da instituição, palestrou durante o Conbran e chamou atenção para as especificidades regionais, citando como exemplo o crescente consumo de alimentos ultraprocessados entre crianças indígenas Yanomami.

“O Conbran tem a finalidade de discutir diversos aspectos relacionados à questão da alimentação e da nutrição, e este ano focou nas suas consequências em termos de saúde pública. É, sem dúvida, um dos mais tradicionais e o maior evento de Nutrição da América Latina, tendo este ano como tema ‘Alimentação e Nutrição na perspectiva da integralidade das práticas do cuidado, discutindo, entre outros pontos, as repercussões da violência interpessoal, dos alimentos ultraprocessados e da discriminação sobre desfechos em alimentação e saúde”, observou Orellana.

A programação do evento contou com cursos pré-congresso, filmes temáticos, palestras, debates, mesas-redondas e premiações. “Apesar de ser um congresso promovido por entidades ligadas à nutrição, sua temática central e, sobretudo, os cinco eixos temáticos estratégicos, promoveram a discussão de assuntos de interesse coletivo, tais como fome ou insegurança hídrica e alimentar em tempos de crise climática, políticas públicas de alimentação e nutrição, incluindo reflexões sobre publicidade e desperdício de alimentos”, salienta. O pesquisador destaca ainda a abordagem de temas relativamente recentes como expossoma (união de fatores externos e internos que impactam respostas biológicas ao longo da vida) e avanços em tecnologia e ciência de alimentos, além de temas tradicionais sobre nutrição clínica e formação profissional.

Durante a mesa-redonda no Eixo 3, o epidemiologista discutiu o consumo de alimentos ultraprocessados e o estado nutricional de crianças Yanomami menores de cinco anos. “Foi uma experiência rica e de muita reflexão, com empolgante interação entre palestrantes e congressistas, incluindo técnicos do Ministério da Saúde, estudantes e trabalhadoras (es) do Sistema Único de Saúde (SUS). Finalmente, o Conbran não apenas fomentou críticas discussões e o compartilhamento de saberes interdisciplinares, como também oportunizou o intercâmbio de experiências acadêmicas e articulações com outros grupos de pesquisa que podem se somar aos esforços do Legepi em produzir conhecimento de ponta e alinhado às necessidades de saúde da população e usuários do SUS”, lembrou.

Professora adjunta da Área de Epidemiologia do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Emanuele Souza Marques, afirma que “falar sobre violência e suas consequências na alimentação e nutrição no Conbran é relevante, por ser uma temática negligenciada na maioria dos cursos de graduação e pós-graduação de nutrição”. E completa: “Muitos dos problemas nutricionais atuais (obesidade, transtornos alimentares, consumo alimentar inadequado) podem ser ocasionados pela vivência de situações de violência. Entender os mecanismos envolvidos nestas relações nos possibilita avançar na elaboração de intervenções mais efetivas para minimizar tais problemas”, salientou.

 

 

*Fonte: Blog do Hiel Levy

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