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A crise da aviação mundial causada pela pandemia do novo coronavírus não esfriou os planos do grupo Itapemirim, voltado ao transporte rodoviário, de entrar no setor de aviação com sua própria companhia aérea. Em entrevista exclusiva ao UOL, o CEO do grupo, Rodrigo Villaça, e o CEO da Itapemirim Linhas Aéreas, Tiago Senna, afirmaram que a expectativa é assinar o contrato de leasing dos primeiros aviões ainda neste mês de julho para começar a voar no primeiro trimestre do ano que vem.
A ideia de criação de uma nova companhia aérea brasileira surgiu em fevereiro deste ano durante uma viagem do governador de São Paulo, João Doria (PSDB) aos Emirados Árabes Unidos. Na ocasião, o empresário Sidnei Piva, presidente da Itapemirim, anunciou um aporte de US$ 500 milhões de um dos fundos soberanos dos Emirados Árabes Unidos.
Uma parte desse dinheiro seria usada para a criação da companhia aérea do grupo Itapemirim. Logo depois, no entanto, estourou a crise do novo coronavírus. O dinheiro ainda não veio, mas o CEO do grupo garante que, mesmo sem ele, a nova Itapemirim Linhas Aéreas irá decolar. Em uma rede social, Villaça tem dado dicas de que o projeto está andando e recentemente divulgou algumas maquetes de modelos de aviões que podem voar pela Itapemirim.
Três modelos de avião na disputa
A intenção do grupo é iniciar as operações no primeiro trimestre do ano que vem com dez aviões. O modelo ainda não foi definido. Estão na disputa o Airbus A319, o Boeing 737-700 e o Embraer 190/195. “Queremos um avião com capacidade entre 100 e 140 passageiros”, afirmou Senna. A empresa cogitou voar com o turboélice Q400, mas essa opção já foi descartada.
Na prática, no entanto, os aviões da Itapemirim devem voar com menos assentos do que a capacidade máxima do modelo escolhido. É que a nova companhia aérea pretende operar um modelo de negócio diferente do oferecido atualmente pelas empresas que voam pelo país.
Classe executiva em voos domésticos
A Itapemirim promete ir na contramão das companhias de baixo custo. A empresa pretende oferecer um serviço premium, com serviço de bordo diferenciado e classe executiva nos voos domésticos.
“A intenção é voltarmos com as bebidas alcoólicas, com pelo menos uma dose de uísque para cada passageiro. Vamos voltar a dar um conforto a mais para o passageiro, que quer ter esse conforto. Resgataremos um pouquinho o que o passageiro da Varig não encontra mais no mercado”, disse. A primeira inovação virá com a divisão do avião em duas classes de serviço, a econômica e executiva. “Se for um avião de 140 lugares, vamos operar com 120, 115 ou 110 lugares”, afirmou Senna. “Vai ter mais espaço também na econômica”, completou.
Para justificar a necessidade de um serviço premium, Senna relembrou até os anos dourados da aviação. “Voei muito na ponte aérea e o avião mais requisitado, independentemente de ser turboprop [truboélice], barulhento e turbolento, era o Electra. Todo mundo queria fazer o último voo do dia no Electra, às 5h da tarde para ir lá atrás na salinha fazer seu happy hour e tomar seu uísque para ir para casa depois de um dia de trabalho. E continua existindo isso [essa demanda]”, afirmou.
Sem promoções agressivas
Com essas características, o foco da Itapemirim deverá ser o passageiro corporativo. “Esses são os passageiros frequentes e não existe uma classe específica para eles”, afirmou Senna. O mercado corporativo costuma pagar tarifas mais altas nas passagens aéreas. E o CEO da Itapemirim já adiantou que a empresa não pretende entrar na competição de preço. Para Senna, o momento de pós-pandemia deve ajudar a empresa nesse sentido.
“Não vamos ter uma redução de tarifa no mercado. Acho que vai acontecer o contrário, e todas as aéreas que estão no mercado vão elevar as tarifas. Por todas as perdas que as aéreas estão amargando em 2020, de alguma forma precisa compensar. Com isso, vamos estar na média do mercado. O que não vamos fazer é competir com tarifa promocional”, disse. Apostar em um serviço com mais qualidade voltado ao público corporativo era uma das estratégias da Avianca Brasil. “É exatamente esse público da Avianca que está nos chamando bastante atenção”, disse Senna.
A empresa, no entanto, teve sérias dificuldades financeiras, entrou em recuperação judicial, perdeu aviões por falta de pagamento e foi obrigada a suspender todos os seus voos. “A Avianca tinha um serviço premium, mas tarifas promocionais”, avaliou Senna.
50 aviões em cinco anos
A empresa pretende iniciar suas operações com dez aviões, tendo como principais aeroportos de operação os de Guarulhos (SP), Brasília (DF) e Recife (PE). Para evitar uma concorrência predatória das companhias aéreas que já estão no mercado, Senna afirmou que a empresa deve ter rotas alternativas. Os primeiros aviões que a empresa receber deverão ficar pouco tempo em operação. É que a Itapemirim já definiu que em três anos deve ter uma frota de aeronaves do modelo Airbus A220, um concorrente dos aviões da Embraer.
“Toda empresa pensa em crescer e já foi demonstrado no mundo inteiro que frota única é rentável e muito mais fácil de lidar. Então, se estou trabalhando com uma frota única de Airbus e se começarmos a ter uma demanda maior de mercado que justifique um avião maior, consigo crescer na linha Airbus em número de assentos, o que não me acontece com a linha Embraer”, disse. O CEO do grupo Itapemirim já chegou até mesmo a divulgar uma maquete do Airbus A220 no Linkedin. Segundo ele, é exatamente essa a pintura que o avião deve ter. A fuselagem amarela deve ser mais uma diferencial da empresa nos aeroportos por onde passar.
Para dar início às operações, a Itapemirim prevê contratar 600 funcionários nos próximos meses, sendo 160 pilotos e 320 comissários de bordo para os dez primeiros aviões da frota. “Devemos começar a seleção já em julho e os primeiros testes serão online”, afirmou Senna.
Para o futuro, a empresa também pretende operar no segmento de cargas, um setor no qual já teve uma companhia aérea no passado.