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Com 65 anos de serviços, o avião a jato U-2 “Dragon Lady” é um dos mais icônicos da Força Aérea dos Estados Unidos. Fabricado pela Lockheed entre 1955 e 1989, a aeronave de reconhecimento possui a capacidade de voar a 70 mil pés (23 quilômetros) – acima do alcance dos mísseis terra-ar soviéticos. E agora, quase 30 anos após o fim da Guerra Fria, os EUA estão investindo mais de US$ 50 milhões para manter esses aviões nos céus.
Porém, a nova missão do U-2 está muito mais alinhada com as novas tecnologias do que vigiar soviéticos. Sua capacidade de altitude, design adaptável e o custo baixo de desenvolvimento o tornam uma peça-chave no Sistema Avançado de Gerenciamento de Batalha, uma rede que conectará armas e sensores no espaço, mar, embaixo d’água, no ar e em terra.
Os modelos U-2 que a Força Aérea ainda mantém foram fabricados no fim dos anos 1980, mas ainda têm cerca de 80% de sua vida estrutural restante, de acordo com Irene Helley, atual diretora do programa U-2 da Lockheed Martin. “É um avião tão versátil que é ideal para ser modernizado”.
O “Dragon Lady” foi projetado pela então engenheira-chefe da Lockheed, Kelly Johnson, e construída apenas nove meses depois que a empresa recebeu um contrato. Naquela época, a tecnologia disponível não levava em consideração questões como miniaturização e o baixo consumo de energia. Por isso, os engenheiros da Lockheed construíram o U-2 grande: 19 metros de comprimento, com uma envergadura de 32 metros, capaz de carregar câmeras, rádios e tubos de vácuo volumosos.
Esse design favoreceu a troca dos componentes eletrônicos por outros mais modernos com relativa facilidade ao passar dos anos. Sistemas de sensores e comunicação de hoje são muito menores e exigem muito menos energia, e o avião continuou a receber novas câmeras ópticas e térmicas, sistemas de radar, instrumentos de amostragem de ar, sensores de frequência de rádio, software de coleta de dados e sistemas de comunicação.
“Quando encontramos um novo recurso ou sensor que queremos introduzir em campo”, diz Helley, “somos capazes de fazer essa integração em questão de semanas”. Em vez de construir uma nova nave do zero, é muito mais barato, fácil e rápido transformar o U-2 em um centro de comando em alta altitude para coordenar comunicações de ponta – como a Força Aérea anunciou em abril que planeja fazer.
Cada ramo das Forças Armadas norte-americanas usa uma variedade de armas e sensores, cada um com seus próprios controles e linguagens, o que pode dificultar a “conversa” entre si. Em 2018, a Força Aérea começou a desenvolver o Sistema Avançado de Gerenciamento de Batalha (Advanced Battle Management System, ou ABMS) como uma rede que pode se conectar e traduzir essas tecnologias.
O ABMS expande (e de certa forma, substitui) o Sistema de Radar de Ataque de Alvo de Vigilância Conjunta (JSTARS), que rastreia alvos terrestres e auxilia no comando e controle das operações, mas o faz a partir de uma única plataforma, o avião E-8C. A ideia é conectar o JSTARS a uma rede com outros sistemas de vigilância, ampliando ainda mais os dados disponíveis e criando uma plataforma mais abrangente.
O U-2 se tornara uma plataforma voadora do ABMS, mas primeiro precisará de uma série de atualizações. Novos computadores e displays de cockpit estão programados para 2022, com maior capacidade de computação e versatilidade, de modo que possa usar aplicativos de qualquer empresa (o sistema é construído com arquitetura de código aberto).
No cockpit, os pilotos terão telas sensíveis ao toque projetando imagens e mapas com maior fidelidade. Sensores a bordo e fontes externas, como navios e sistemas de radar aéreo e por satélite, combinarão dados para formar as imagens. “Será em dirigir pela cidade de Nova York com a versão mais recente do Google Maps em uma tela sensível ao toque de alta resolução com conexão à Internet”, explica um dos pilotos de U-2, que conversou com a Scientific American em condições de anonimato.